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Com Nhá Chica e Padre Victor, turismo religioso aposta em novas rotas no Sul de MG - Rádio Rede FM


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Com Nhá Chica e Padre Victor, turismo religioso aposta em novas rotas no Sul de MG

Cidades como Baependi e Três Pontas ganharam mais visitantes e entraram em roteiro de peregrinos. Proximidade com Aparecida favoreceu novos caminhos.

 

 

Se a fé move montanhas, ela também pode abrir novos caminhos. É no Sul de Minas Gerais, em cidades sentido Aparecida, o ponto de encontro de católicos do interior paulista, que fiéis e romeiros têm explorado novas rotas. A força dos nomes dos beatos Nhá Chica e Padre Victor é o que traz milhares de pessoas de várias partes do país em busca de milagres, agradecimentos por graças e experiências de fé.

O turismo religioso encontrou no Sul de Minas novos pontos de parada. Antes considerada um meio de chegada à terra de Nossa Senhora Aparecida pelo Caminho da Fé, a região ganhou seus próprios atrativos. No foco de novas rotas estão cidades como Baependi e Três Pontas.

O G1 Sul de Minas apresenta o especial “Turistando”, que mostra como as principais cidades turísticas do Sul de Minas estão incentivando e promovendo o turismo na região.

Com Nhá Chica e Padre Victor, turismo religioso aposta em novas rotas no Sul de MG — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Com Nhá Chica e Padre Victor, turismo religioso aposta em novas rotas no Sul de MG — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Caminhos de Padre Victor

Em Três Pontas, terra onde Padre Victor viveu e deixou suas obras, os números chamam atenção. Na festa do beato de 2019, comemorada em 23 de setembro, o setor de turismo da cidade recebeu da Polícia Militar uma estimativa de fluxo de 80 mil pessoas em três dias.

“Quem não conhece se surpreende. De pensar que Três Pontas tem 57 mil habitantes. A fé move muito mesmo. A gente tem relatos das pessoas eu vêm a pé pra cá, a cavalo, pessoas que fazem sacrifício, que juntam um dinheirinho, e tratam Padre Victor como se fosse santo, não tratam como beato”.

O relato é da turismóloga Keyre Kelly Ferreira Mariano. Há anos, ela acompanha as transformações e o aumento no volume de turistas, principalmente após a beatificação reconhecida pelo Vaticano, em 2015.

Fiéis visitam Padre Victor em igreja de Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Fiéis visitam Padre Victor em igreja de Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

A surpresa veio ao receber dados de uma pesquisa feita em 2019, ao identificar fiéis vindo não só de destinos comuns como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, mas de lugares mais distantes, como o Piauí.

“Este grupo vem pelo segundo ou terceiro ano, todo mês de agosto vem um ônibus. Eles visitam o memorial, participam de missa, depois vão pra Canção Nova ou Aparecida, mas passam aqui. Piauí é diferente”.

Além de visitar memorial de Padre Victor, fiéis compram itens religiosos em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Além de visitar memorial de Padre Victor, fiéis compram itens religiosos em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

É de olho nesta movimentação que o setor de turismo tem buscado novos investimentos. O mais recente foi uma parceria com uma agência especializada em turismo religioso do interior de São Paulo.

Três Pontas entrou no mapa por um roteiro que sai de Atibaia, passa por Baependi, e chega até a cidade de Padre Victor, onde os turistas dormem. No dia seguinte, seguem para Aparecida.

“Este roteiro já é comercializado. Inclusive, a primeira atitude que a agência teve foi isso – imprimiu mais de dois mil catálogos e está enviando para dioceses do Brasil todo”, detalha Keyre.

Igreja de Nossa Senhora D'Ajuda fica em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Igreja de Nossa Senhora D’Ajuda fica em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Agora, está em etapa de desenvolvimento um aplicativo em parceria com a Associação Comercial para reunir informações sobre hospedagem, restaurantes e pontos de visitação.

“A primeira coisa é facilitar para o turista. Ele chegou na cidade, vai ter um aplicativo pra poder baixar, onde vai ter todas as informações. Desde hotel pra se hospedar, bons restaurantes, agenda cultural. Então é para interligar tudo, para que o turista seja ‘carregado no colo’”, explica o secretário de cultura, lazer e turismo, Alex Tiso Chaves.

Fé, música e café

Três Pontas há anos recebe frutos referentes a sua importante tríade – fé, música e café. A indústria cafeeira, base da economia da cidade, gera empregos e atrai visitantes de um dos municípios mais conhecidos pela produção de grãos no Sul de Minas.

Na música, os nomes ilustres de Milton Nascimento e Wagner Tiso, nascidos em Três Pontas, reforçam a tradição musical e hoje são lembrados por visitantes na Casa da Cultura e no Conservatório Municipal, que hoje atende 600 alunos de forma gratuita.

Igreja de Nossa Senhora D'Ajuda fica em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Igreja de Nossa Senhora D’Ajuda fica em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

“A preocupação da secretaria tem sido de criar um vínculo com a fé, a musica e o café. A música a gente já tem a representatividade através do Milton e do Wagner Tiso, pessoas que já levam o nome da cidade de certa maneira. O café, nem precisa dizer da importância”, detalha Alex.

O secretário afirma que o turismo religioso estava esquecido na cidade. E que, além de Padre Victor, o município tem a chamada “Nossa Mãe”, outra pessoa em processo de beatificação no Vaticano.

“Com essas duas referências, Três Pontas passa a ser um polo de turismo religioso muito importante dentro desse contexto do Sul de Minas. Isso pode sim virar uma fonte de renda para o turismo na cidade. E o principal foco disso tudo é que a gente tenha essa vivência religiosa todo o ano, que a gente possa ter outras atrações para os turistas, agregando o lado religioso com a música e o café”, reforça.

Três Pontas (MG) quer investir no turismo de fé, música e café — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Três Pontas (MG) quer investir no turismo de fé, música e café — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Por caminhos de fé

Entre os romeiros da região, a história é parecida. Juscelei dos Santos Buzetti é de Campanha (MG), cidade natal de Padre Victor. Como tantos outros romeiros, começou suas aventuras a pé rumo à Aparecida.

“São 57 romarias a pé e eu estou com 59 anos. Para Aparecida, já fizemos romaria com 300 pessoas. Como Padre Victor é de Campanha, surgiu a ideia de vir pra cá e pra ‘Nhá Chica’ também. Já tive muita bênçãos e quero continuar. Se o ‘santo’ Padre Victor abençoar, serão muitos anos ainda”.

Romeiros de Campanha (MG) chegam a Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Romeiros de Campanha (MG) chegam a Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Também em uma missa de domingo, Edith Raposo, coordenadora do apostolado de Baependi, levou mais 16 pessoas para um encontro em Três Pontas. Uma delas é a mãe, de 89 anos.

O dia foi dedicado a visitar o memorial Padre Victor e assistir a missa na Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda. “Muitos vêm por agradecimento por graças alcançadas, muitos em busca de milagre”, analisa.

Edith contextualiza bem, aliás, a conexão entre Nhá Chica e o beato.

“É uma benção Deus ter colocado, no Sul de Minas, duas pessoas como exemplo. São lugares especiais, que quando a gente pisa em um lugar que alguém assim também pisou, que teve a essa conexão com o divino, faz a gente ter mais esperança, aumenta a nossa fé”.

Visitantes de Baependi (MG) participam de missa em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Visitantes de Baependi (MG) participam de missa em Três Pontas (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Do beato à beata – Nhá Chica

Na própria igreja Nossa Senhora d’Ajuda, local onde ficam os restos mortais de Padre Victor, a imagem de Nhá Chica divide espaço na entrada principal com o beato, assim como na venda de imagens do memorial.

Mais de 130 quilômetros separam as duas cidades. No entanto, tornou-se comum para quem vem de outros estados fazer uma visita aos dois beatos do Sul de Minas.

Nhá Chica e Padre Victor têm ligação no Sul de Minas após beatificação — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Nhá Chica e Padre Victor têm ligação no Sul de Minas após beatificação — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Visitas que não começaram há pouco tempo. Parte da comissão histórica do processo de beatificação de Nhá Chica, a pesquisadora Maria do Carmo Nicoliello Pinho conta que a chamada Mãe dos Pobres atraía pessoas a Baependi ainda em vida.

“Sempre atraiu muita gente, desde o século XIX. Ela viva ainda já recebia pessoas de todas as classes sociais. Naquele tempo o nome dela já era conhecido. Para se ter uma ideia, desde 1911 já tem registro de visitas aqui pedindo graça. Ela morreu em 1895”, detalha.

Pesquisadora Maria do Carmo Nicoliello Pinho, em Baependi (MG), fala sobre Nhá Chica — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Pesquisadora Maria do Carmo Nicoliello Pinho, em Baependi (MG), fala sobre Nhá Chica — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Após a beatificação, tantos anos depois da morte da figura religiosa, o que atrai as pessoas à cidade de pouco mais de 19 mil habitante?

“É uma tradição que vem de família, vai passando de avós para filhos e netos. Eles sempre têm uma história de uma avó que era devota. Não é só durante a festa dela em junho. É todo dia, todo fim de semana com pessoas por aqui”.

Memorial Nhá Chica atrai visitantes em Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Memorial Nhá Chica atrai visitantes em Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Foi em uma quarta-feira que uma fiel do interior de São Paulo decidiu visitar Baependi, ao lado do marido. A viagem de Batatais até a parada final no Sul de Minas durou 6h30. Era aniversário de Terezinha Teixeira Gosmini.

“Eu pedi pra que esse ano corresse tudo bem, porque eu queria passar meu aniversário juntinho dela. Pra mim hoje está sendo o dia mais maravilhoso”.

Nos roteiros religiosos, Terezinha conta que faz excursões para Aparecida, em abril, na Festa de São Benedito, e para Trindade (RJ), em 6 de agosto, dia de São Bom Jesus, padroeiro de Batatais. “Eu só faço excursão para religião”.

Mas é para a terra da beata Nhá Chica onde sempre se esforça mais para voltar. “Não tem explicação não. É muita felicidade. Ainda que eu nem entrei na casinha dela”, lembra, emocionada.

Turista do interior de São Paulo (MG) se emociona ao visitar santuário em Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Turista do interior de São Paulo (MG) se emociona ao visitar santuário em Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Atrativos e o “volunturismo”

Hoje, o turista que chega a Baependi segue até o Centro da cidade, onde fica o Santuário e a casa onde a beata morou. No imóvel simples, é possível ver a cama onde dormia, o fogão à lenha e fotos de fiéis com graças alcançadas.

Um dos itens que mais chama atenção dos visitantes é a imagem original da Imaculada Conceição, que Nhá Chica trouxe aos oito anos de idade de São João Del Rei, onde nasceu. No memorial, ao lado da casa, os fiéis têm registros em jornais, objetos e fotos que contam um pouco da história.

Casa de Nhá Chica atrai fiéis a Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Casa de Nhá Chica atrai fiéis a Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Anexo a toda a estrutura, o espaço da Associação Nhá Chica abriga uma escola, que atende crianças e jovens, além de menores de idade desabrigados – alguns em fila de adoção. Ali, é possível ver a continuidades das obras da beata.

Na associação, foi encontrado um potencial que deve entrar em ação em breve – o chamado “volunturismo”. Como o nome diz, a ideia é atrair turistas que estejam dispostos a fazer um trabalho voluntário com as crianças.

Ideia de associação em Baependi (MG) é investir no "volunturismo" com trabalho com crianças — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Ideia de associação em Baependi (MG) é investir no “volunturismo” com trabalho com crianças — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

“Nós estamos nos adequando para oferecer a essas pessoas um espaço de uma experiência de um retiro espiritual. Um espaço pro volunturismo, onde as pessoas podem ajudar nas atividades com as crianças, contando histórias. Pra que essa pessoa viva uma experiência de fé. E vivencie um pouco do que Nhá Chica viveu e da obra dela”, conta a irmã Aída Ferreira Martins, uma das freiras que ajudam na manutenção do local.

Na possibilidade de visitar a associação, o turista poderá ver os locais onde algumas crianças dormem, as salas de aula, salas de oficinas, hortas cultivadas pelos alunos e tudo que faz parte do projeto.

Nhá Chica — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Nhá Chica — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Rota Nhá Chica

São turistas de Minas Gerais, São Paulo, até do Sul do país. Para fortalecer os caminhos que levam à beata, uma parceria com o Sebrae inaugurou em agosto a Rota Nhá Chica.

São 220 quilômetros de Tiradentes (MG) a São Lourenço (MG), passando por Santa Cruz de Minas, São João del-Rei, Carrancas, Cruzília, Baependi, Caxambu e Soledade de Minas.

A ideia foi entregar trechos com a Estrada Real e fortalecer o turismo religioso na região, área que segundo a guia turística Ana Cristina Ribeiro deve ter uma receita de R$ 20 bilhões em 2019. A estimativa é do Ministério do Turismo.

Rota Nhá Chica — Foto: Arte/G1

Rota Nhá Chica — Foto: Arte/G1

“Com esse suporte, o turismo religioso e o turismo de um modo geral vai crescer. Porque cada cidade já tem seu atrativo, mas às vezes você precisa de um apoio para enxergar potenciais”, afirma a guia.

A rota foi desenvolvida dentro das 11 virtudes atribuídas a ela – castidade, prudência, fé, humildade, fortaleza, justiça, pobreza, obediência, caridade, esperança e temperança.

Ana Cristina Ribeiro é guia turística em Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Ana Cristina Ribeiro é guia turística em Baependi (MG) — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Várias faces de Baependi

Além de visitar a casa de Nhá Chica, o memorial e o santuário, quem chega a Baependi encontra um turismo ecológico consolidado. A cidade é conhecida pelas cachoeiras, em mais de 10 quedas d’água com acesso por estrada de terra.

“É diferenciado porque aqui nós temos o turismo ecológico e religioso, ou seja, uma coisa pode ser ligada a outra. Quem vem pro turismo religioso vem na Nhá Chica e pode ir nas cachoeiras, e vice e versa”, afirma a pesquisadora Maria do Carmo Nicoliello Pinho.

Além do turismo religioso, Baependi (MG) tem rota de cachoeiras — Foto: Prefeitura de Baependi

Além do turismo religioso, Baependi (MG) tem rota de cachoeiras — Foto: Prefeitura de Baependi

Baependi tem um papel estratégico pela união de várias faces do turismo. Além do religioso e ecológico, o histórico ganha força com igrejas de mais de 100 anos, representadas pela Igreja Matriz de Nossa Senhora do Montserrat. No Centro da cidade, a construção é tombada pelo patrimônio histórico.

A localização estratégica da terra de Nhá Chica também ajuda. “Na região, temos Caxambu que fica a seis quilômetros, que tem uma gama muito grande de hotéis, que oferecem variada opção de roteiros, que começam em Tirandentes e finalizam em São Lourenço”, explica a guia turística Ana Cristina.

Baependi (MG) investe em turismo religioso, ecológico e histórico — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Baependi (MG) investe em turismo religioso, ecológico e histórico — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

“Então temos visitações, igrejas do circuito histórico, degustação de queijos e cachaça na cidade de Cruzília, passeio de trem e o circuito das águas. Então, quando você vem pra executar essa rota, você acaba não só vivenciando o turismo religioso, você vivencia o histórico e o cultural dessa região”.

Para a irmã Aída, o futuro é de ainda mais visitas. “Eu acho que já virou uma região com ‘visita obrigatória’. A impressão é que daqui uns anos, vai virar um caminho de fé. Porque daqui a Aparecida, a Canção Nova, não é tão longe. E quem vem a Baependi, tem Campanha, tem Três Pontas. Então pra quem visita vai virar um espaço onde ele pode fazer uma experiência de fé”.

Baependi (MG) entra em rota do turismo religioso e ecológico — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Baependi (MG) entra em rota do turismo religioso e ecológico — Foto: Fernanda Rodrigues/G1

Fonte: G1 Sul de Minas – 

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