Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:
O Sul de Minas tem registrado um aumento de casos de coronavírus. Até o último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, a região tinha 375 casos confirmados, sendo 19 óbitos. A história da pandemia repete um cenário que marcou o mundo há mais de um século – a gripe espanhola, que surpreendeu o planeta em 1918 e deixou marcas também na história do Sul de Minas.
Na época, mais de 30 mil pessoas morreram no Brasil. Pesquisadores do Sul de Minas encontraram documentos e relatos que mostram que a pandemia da gripe espanhola fez centenas de vítimas na região.
Naquela época, Varginha tinha 22 mil habitantes. O historiador José Roberto Sales conseguiu o registro de 184 pessoas que morreram vítimas da doença.
Livro retrata como a gripe espanhola atingiu Varginha (MG) — Foto: Reprodução/EPTV
Sales também mergulhou na história do Circuito das Águas. O estudo aponta que 176 pessoas morreram nas estâncias hidromineirais – 91 em Cambuquira, 25 em Caxambu, 49 em Lambari, que se chamava Águas Virtuosas, e 11 em São Lourenço. Os registros são entre o final de 1918 e os primeiros meses de 1919.
“Naquela época no início do século passado, infelizmente todas as informações demoravam muito para chegar ao público. Às vezes, levavam até meses. Muitas autoridades daquela época infelizmente não acreditavam na proporção, na disseminação que o vírus podia causar. E muitos óbitos ocorreram”, explicou o médico pneumologista Robertson Rodrigues Pereira Júnior.
Gripe espanhola: maior pandemia da história fez vítimas no Sul de Minas
Em 1918, Poços de Caldas já se destacava como importante destino turístico. A cidade recebia milhares de turistas em busca, principalmente, da cura pelas águas termais.
Um anúncio publicado no jornal O Estado de São Paulo em outubro de 1918 anunciava a cidade como a “Suíça Brasileira”. E trazia a mensagem: “A esta estância a gripe espanhola não atinge”. No entanto, Poços de Caldas também registrou 144 mortes.
“A população de Poços de Caldas na época era de 9 mil habitantes e estima-se que cerca de 6 mil, ou seja, dois terços da população contraiu a doença”, contou o escritor Luiz Roberto Judice.
“Os corpos de suas vítimas eram recolhidos às pressas e enterrados sem a presença dos familiares, sem os cultos religiosos comuns na época, em valas comuns no Cemitério da Saudade, onde ainda existem alguns túmulos dessas pessoas. Podemos afirmar que ela era muito mais rápida que o Covid-19. Os sintomas eram muito mais imediatos. As pessoas se infectavam num dia e no dia seguinte já estavam mortas”.
Quando a pandemia terminou, a população decidiu homenagear um dos médicos da cidade, o doutor Francisco Faria Lobato. O registro histórico ficou em uma placa levada até o consultório do médico, que depois foi instalada em um monumento erguido na cidade, que ainda existe, após 102 anos.
O médico que dá nome a um dos hospitais referência no atendimento às vítimas da Covid-19 em Pouso Alegre foi um personagem importante na época da gripe espanhola. Samuel Libânio se destacou em Belo Horizonte na luta contra a epidemia.
Médico Samuel Libânio se destacou em Belo Horizonte na luta contra a epidemia — Foto: Reprodução/EPTV
A história foi contada em um documentário de um historiador de Pouso Alegre, Juliano Finamor. “Ele era o diretor de higiene de Minas, que era um cargo equivalente ao secretário de Saúde do estado. O doutor Samuel Libânio determina, principalmente em Belo Horizonte, medidas rígidas quanto ao isolamento, então ele teve um grande destaque durante a última pandemia há mais de 100 anos”, afirmou.
Para o escritor Luiz Roberto Judice, as marcas foram profundas no Sul de Minas e deixaram um registro histórico na região. “Na verdade, não existiu naquele tempo um remédio que pudesse curar e tão rapidamente como chegou, ela se foi, deixando atrás de si um rastro de desolação e de destruição.
Fonte: G1 Sul de Minas – 10/05/2020 11h09