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Embora os estudos sobre a Covid-19 tenham mobilizado pesquisadores em todo o mundo e a corrida pela vacina esteja acelerada, ainda há muitos aspectos do novo coronavírus que intrigam médicos e cientistas. Entre eles a perda de olfato e paladar associada à doença.
Na edição desta sexta-feira (4) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes explica como acontece a anosmia e a ageusia – perda de olfato e paladar, respectivamente – e por que essas condições estão sendo tão frequentes na Covid-19.
“Quando os primeiros casos do novo coronavírus foram aparecendo e se discutia como era a manifestação clínica da doença, notou-se que havia a anosmia (a falta da percepção do cheiro) como algo relativamente comum”, afirma Gomes.
O médico cita dados de um estudo da Universidade da Flórida, que apontou que as pessoas diagnosticadas com Covid-19 perdem, em média, 80% do olfato e 69% do paladar.
Isso ocorre porque o Sars-Cov-2 afeta o nervo olfativo, que, segundo ele, “são pequenas ramificações que se juntam em uma outra estrutura intracraniana chamada bulbo olfatório, e segue para dentro do cérebro, fazendo contato com as áreas do prazer e da memória”.
“Qualquer doença respiratória que pegue vias respiratórias superiores pode provocar um certo inchaço na mucosa dessa região e prejudicar a entrada da informação olfativa”, ressalta. “Não é incomum alguém que está gripado falar que não está sentindo o cheiro das coisas”, acrescenta.
Mas a tendência a essa perda parece ser maior em diagnósticos da Covid-19. “No caso do novo coronavírus, além da pré-disposição pelas vias superiores, também tem o tropismo, que é uma facilidade de chegar perto do nervo olfativo, o que causa a perda do olfato”, explica, acrescentando “o fato do vírus gostar de ter contato com esse nervo”.
Com o olfato alterado, o efeito colateral associado é a mudança do paladar. “Também fica comprometido. Isso porque o sabor vem através de informações sensoriais produzidas no contato do alimento com a língua, mas também vem pelos vapores através do olfato e no cérebro, que se juntam e dão a sensação de paladar”, detalha.
Gomes aponta que os resultados até aqui têm mostrado recuperação desses sintomas em até três meses do início da perda de olfato e paladar, mas frisa que os casos ainda estão sendo acompanhados para determinar melhor quais serão os impactos a longo prazo. “Ainda não sabemos se será uma sequela definitiva ou não”, conclui.
Mais recentemente, um estudo realizado pelo Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) analisou a presença do sintoma em pacientes durante dois meses e indicou que a perda de olfato causada pelo novo coronavírus pode ser permanente em alguns casos.
Em um período médio de dois meses, 143 pacientes foram reavaliados, e, destes, a perda da capacidade olfativa persistiu em 5% dos casos. O HC destaca que o tratamento precoce da condição maximiza as chances de recuperação completa dos sentidos. Os outros 95% reportaram recuperação total ou parcial dos sentidos.
O estudo, com 655 pessoas, está em processo de revisão por uma revista científica.
Fonte: CNN – 04 de setembro de 2020 às 10:33